Até 15 de Outubro de 2010, das 10h - 16h (seg-sex).
Esta exposição começou com uma troca de mensagens eletrônicas, há mais de dois anos,
entre a chefia da Divisão de Obras Raras e o Prof. Dr. Victor Melo, leitor e pesquisador da
Divisão, professor da UFRJ e estudioso dedicado da História do Esporte, do Lazer e das
Práticas Corporais. Na ocasião, foi considerada a possibilidade de sua colaboração –
prontamente concedida – na montagem da exposição temática. No entanto, os livros raros não
estão indexados por esportes; as imagens – necessárias para uma exposição que pretendia
alcançar o grande público que visita a Biblioteca Nacional – não são indexadas por assuntos
nos sistemas de catalogação.
Além disso, duas questões foram levantadas pelo Prof. Victor Melo e verificadas na literatura
pesquisada: a distinção entre jogo, atividade e esporte; e a constatação de práticas que
passaram à condição de esporte, e de outras que deixaram de sê-lo. Estas questões foram
resolvidas com a ampliação da temática da exposição, definida no título.
Então, foi desencadeada a busca em obras que potencialmente ofereceriam imagens que
poderiam ilustrar e ilustram a exposição. As obras selecionadas não se configurariam, numa
pesquisa em acervos correntes, como fontes para uma pesquisa sobre esporte, tais como:
• Relatos de viajantes, com abordagens textuais e imagéticas sobre povos “exóticos”,
de caráter antropológico, etnográfico, linguístico, como as obras de Lafitau,
missionário jesuíta que viveu entre índios, na América do Norte, considerado o
fundador da etnografia científica; ou o livro do capitão James Cook, que fez o
reconhecimento de várias ilhas que englobavam, no século XVIII, um hipotético
continente austral, recolhendo observações precisas, documentadas com ilustrações de
interesse considerável;
• Registros de inventores, como a “máquina de voar” de Carl Friedrick Meerwein,
desenvolvida a partir da técnica de vôo do pato selvagem no início do século XIX, e
já, então, bastante assemelhada a uma asa delta;
• Tratados de educação de autores clássicos como Joaquim Jerônimo Serpa, que
cuidou do esporte como “recreação e divertimento das crianças”; e Clement Tissot,
que definiu uma taxonomia de exercícios, baseado no princípio “nem muito, nem tão
pouco”;
• Livros de medicina, de autores que abordaram as atividades físicas como meio para a
preservação da saúde, tais como Francisco de Melo Franco, médico, naturalista e um
dos precursores da observação e estudo do comportamento humano; e Blas Alvarez
Miraval, médico e teólogo que teorizava segundo a tradição eclesiástica, enfocando,
exclusivamente, o homem;
• Obras de moral, popularizadas no século XVI como “emblematas”, ricos em imagens
que disseminavam valores, como a obra de Johannes Sambucus, com a imagem de um
jogo de tênis onde um dos jogadores utiliza duas raquetes; e a de Johann Comenius,
um manual escolar em edição popular, quadrilingue e ilustrada, considerado o
primeiro livro infantil ilustrado, na tradição européia; e
• Fascículos de periódicos, explicitamente de esportes, publicados no século XIX e
início do século XX, quando o esporte já era notícia de primeira página.
Desse modo, foram expostos 34 itens sobre jogos, atividades e esportes como atletismo,
balonismo, beisebol, caça, canoagem, ciclismo, educação física, esgrima, futebol, ginástica,
hipismo, natação, lutas (boxe, jogo do pau), regatas, tênis, turfe, vôlei, vôo livre e xadrez.
Entre os cimélios expostos, destacam-se fascículos de periódicos que resgatam terminologias
antigas, como “pedestrianismo” para a marcha a pé, caminhada; “pébol” para futebol; e
“velocipedia” para ciclismo. O item mais antigo é um manual de xadrez, de 1496 e o mais
recente é um vocabulário de caça, de 1944. Parte significativa das obras expostas trazem as
marcas da Real Bibliotheca portuguesa, trazida para o Brasil pela corte de D. João e
adquirida pelo Governo Imperial brasileiro.
A exposição Corpos moventes: jogos, atividades e esporte em papéis raros, além
de mostrar que é possível pesquisar e recuperar sobre um dos mais interessantes assuntos no acervo da Divisão de Obras Raras, resgata o encantamento que o esporte é capaz de provocar,
no mínimo, desde o século XV...
Ficha Técnica:
Exposição Corpos moventes: jogos, atividades e esporte em papéis raros
Pesquisa: Ana Virginia Pinheiro, Bibliotecária
Chefe da Divisão de Obras Raras
diora@bn.brPesquisa de imagens: Natália Tortorella
André dos Santos Silva
Montagem:
Ana Virginia Pinheiro
André Luiz dos Santos Silva
Rodrigo Bozzetti
Apoio:
Luiz Antonio de Oliveira
Maria do Rosário Martinho
Claudia Mayrink Couto